terça-feira, 20 de maio de 2014

Sobre a liberdade e o amor


Há quase um ano meu celular fez: pá-pum. Não deu sinal, não deu uma deixa. Simplesmente desligou para nunca mais. Ok, acontece com todos. Já tinha acontecido comigo. O problema é que dessa vez foi diferente. Nele eu tinha umas duas mil fotos (e alguns vídeos) desde o final da gravidez, até os 5 meses do João. "Mas porra, você não tinha feito back up?" Não, nesse período eu mal tomava banho e escovava os dentes, a última coisa que eu ía lembrar era de fazer um back up das fotos. E eu chorei. Mas chorei tanto, tanto, que.. Chorei mais um pouco. Claro, dessas duas mil fotos, umas mil eu tinha mandado por mensagem/e-mail para a família/amigos. Mas as fotos e vídeos da amamentação... Não havia restado nenhuma. E essa era a minha maior dor. A amamentação foi um longo e doloroso processo para mim. A princípio eu não sabia se iria conseguir amamentar ou não, por causa de uma mamoplastia de uns 20 anos atrás. Parece que reduz bastante os ductos mamários. Em seguida a cesárea (tema para um post futuro, se eu tiver estômago para isso) que também dificulta a descida do leite. Então vieram as fissuras, a cândida mamária, a mastite.. E enfim, três meses depois (de muito choro, dor e complemento), pude descobrir o que era amamentar sem dor. Apenas prazer. Porque amamentar é uma delícia e eu teria mais dez filhos só para poder passar por essa experiência de novo. Quando percebi que João estava começando a querer abandonar o barco, e as mamadas foram diminuindo drasticamente, me veio o desejo de registrar esse momento, e de alguma forma, guardá-lo para todo o sempre. E assim, as fotos e vídeos que.. Pá-pum com o celular. E por isso, o choro. E a necessidade do registro eterno no meu coração e em todas as células do meu corpo. Porque é muito além da nutrição. É olho no olho, troca de sorrisos, mãozinha passeando por você. É vínculo, afeto, sensorial, orgânico, emocional (pausa para lagriminha descendo no cantinho do olho direito).

Escrevi todo esse relato porque hoje criou-se um movimento chamado #mamaçovirtual, como forma de protestar contra denuncias de fotos de mães amamentando, com a alegação de pornografia. Pois é, esse é o momento que estamos vivendo. Mulheres são proibidas de amamentar em público. Se não é algo declarado, é um olhar enviesado, ou um olhar erotizado. E agora, denunciadas como realizando um ato pornográfico. É triste. É perverso. Mas, como nem tudo está perdido, consegui achar uma foto minha amamentado o pequeno. Não era a melhor, mas é a que ficou. E me diz muito. Apesar de todo o percurso cheio de pedras pelo caminho, nós conseguimos. Nós dois. 5 meses e meio. Fica aqui o apoio a esse protesto. E para quem está com dificuldades para amamentar, procure ajuda! O Banco de leite do Instituto Fernandes Figueira, por exemplo, tem um serviço incrível. Público meu povo! Ou se preferir, profissionais com expertise, que podem ir até a sua casa (www.possoamamentar.com.br). Às vezes, uma simples orientação pode ajudar muito. E mudar o rumo de uma história. Não desista =)

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