quinta-feira, 26 de abril de 2012

o que eu vou salvar?

fogo meramente ilustrativo

Foi a primeira pergunta que eu me fiz, após meus vizinhos baterem na minha porta para avisar que um apartamento no sexto andar estava pegando fogo. Todos tinham que descer. Fogo, sexto andar, coração na boca, arrepio pelo corpo inteiro. Sozinha em casa. Queria chorar, mas não dava tempo. O que eu pego? Fecho as janelas? Apago as luzes? O celular foi a primeira coisa. Carteira. Sei lá! Olhei para o computador. Pensei no que tenho de valor. Valor? Sentimental, afetivo, porque de jóia mesmo, apenas a aliança. O resto a gente repõe. Desapego. Que difícil isso. Fecho as janelas e antes de apagar a última luz, paro por uns instantes. Olho para a minha sala e fico admirando. Tudo que nós temos, construímos. Estamos construindo. Será que é assim? De um segundo para o outro tudo muda e tudo o que você tem fica em risco. Mas é no sexto andar e pode ser que o bombeiro chegue à tempo. Por favor, Sr. Bombeiro chegue à tempo. Celular no bolso, carteira na mão e pano de prato. É, pano de prato. Eu estava lavando a louça quando bateram na minha porta e depois dos dois minutos que demorei para decidir as medidas que deveria tomar, o pano de prato ficou esquecido no meu ombro. Cheiro de fumaça forte na escada de emergência. Sim, não usar o elevador é a primeira coisa que aprendemos sobre incêndio. Incêndio. Essa palavra ainda soa estranho. Mães, pais e babás com crianças, pais e mães chegando do trabalho, outras crianças chegando da escola, cachorros no colo. E eu agradecendo meus vizinhos. Meus heróis. Fiquei do outro lado da rua olhando meu apartamento apagado. Esqueci a porta da varanda aberta. Rezo para o carinha lá de cima (aquele que mora aqui dentro). Os bombeiros chegam e sobem de elevador (eles perderam a primeira aula?). Fogo controlado. Meus nervos também. Tenho agora a companhia dos meus pais e minha irmã que me dão o colo que só eles (e ele) sabem me dar. Foi um curto circuito e dentro de uns minutos os moradores retornam para o seu lar. O meu lar. Suspiro de alívio. Apesar do forte cheiro que ainda se percebe nos elevadores e corredores, salvaram-se todos. Eu salvei meu celular, a carteira e o pano de prato. E a mim também.

sábado, 21 de abril de 2012

Para ele


 
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O dia em que você conhece o amor da sua vida


Você está saindo de um aniversário em um bar, já passa de uma da manhã e o ânimo é pequeno. Mas é o aniversário de uma grande amiga, e você resolve deixar a preguiça de lado e chamar um táxi, na esquina da Prudente com a Farme.
Aí você se lembra que a festa é à fantasia, então chegando lá, pede emprestado um adereço. Coloca um arco de coelha e com um lápis de olho traça uns bigodinhos na bochecha. Está pronta. Desce as escadas cuidadosamente com seu scarpin pink, short jeans e camiseta. Durante a festa, um turista e um jóquei se fazem presentes. O turista conta que a roupa é de um figurino de um espetáculo do seu grupo. Ele é músico. Você acha graça. Acontece então uma conversa tímida sobre qualquer assunto às 4h da manhã, na tentativa de uma aproximação maior. Ele, gentil, cede a última garrafa de Stella para a sua irmã, que com um grande incentivo e tomando a tal Stellinha, tenta aproximar vocês dois. Ele te olha diferente, mas nada acontece. Ele não se conforma por estar de carona e não poder te levar embora. Você, cansada, volta para casa com a sua irmã, que no caminho faz um grande discurso, irritada com a sua falta de abertura para um cara que parecia tão bacana.
Chegando em casa, às cinco da manhã, você vai dar uma olhada no seu e-mail e descobre que o tal cara bacana te procurou no Orkut. Bendito Orkut. E assim começa um contato entre letras e risos e uma vontade de se ver, como tinha de ser. Uns dias depois você fica sem internet e pede para a sua grande amiga enviar um e-mail para ele com o seu telefone. Pronto. Não havia mais dúvida. Ele tinha te ganhado e você não fica nem um pouco sem graça por entregar os pontos. E numa quarta-feira, saindo do trabalho, você recebe uma mensagem. Era ele te convidando para sair. Combinado. Saindo da terapia, você corre para comprar uma roupinha nova (claro que ele só vai descobrir isso agora). Às nove ele te pega e sugere um Japa em Santa. Duas palavrinhas que no seu ouvido soam quase como um pedido de casamento. Sim, você aceita. Mas o tal japa em Santa já não é mais o mesmo. Tem televisão ligada, barata na parede e atendimento ruim. Então você sugere um japa em Ipanema, onde vocês conversam sobre a vida, trabalho e afins, compartilhando a primeira refeição juntos. No carro, o tão esperado beijo. Com gosto de Halls de melancia. E desde então, vocês viajam, curtem os carnavais e se amam de uma forma única, somando amigos, risos e projetos. Saindo cada vez melhor das curvas do caminho. Tendo a certeza de que querem envelhecer juntos, e continuar a sorrir a cada acordar, quando os olhares se encontram. Porque naquela madrugada do dia 25 de novembro de 2007, você tinha que ter pego aquele táxi, naquela esquina, e mesmo cansada, se fantasiar de coelha para conhecer o amor da sua vida.